Uma das peças mais populares de William Shakespeare, Romeu e Julieta ganhou uma adaptação rara para o cinema em Língua Brasileira de Sinais (Libras), com um elenco formado por atores surdos e produzida pelo Grupo Signatores. O sucesso do projeto levou Adriana Somacal, professora de teatro bilíngue do IFSC e diretora do Grupo, à Islândia para apresentar “Shakespeare em Libras” na 9ª edição do congresso de teatro IDEA (International Drama Education Association) Iceland Drama 4ALL, que ocorre até sexta-feira (8).
O projeto iniciou suas atividades em 2017 e foi desenvolvido pela professora e diretora de Teatro Bilíngue no Instituto Federal de Santa Catarina – Câmpus Palhoça Bilíngue (LIBRAS/Português), no curso de Formação e Iniciação Continuada de Teatro Bilíngue (FIC). Ao final do semestre acontecem apresentações do curso, e em dezembro de 2017 foi realizada a primeira apresentação de cenas baseadas em “Romeu e Julieta”. A pesquisa seguiu em desenvolvimento como tema central de doutorado de Adriana Somacal no Programa de Pós Graduação em Teatro, na Udesc.
Em 2019, o projeto foi selecionado na categoria “Espetáculo Teatral”, no 24º Cultura Inglesa Festival, com estreia prevista para maio de 2020, que acabou não ocorrendo em função da pandemia. Neste período, o Grupo Signatores decidiu alterar o formato da montagem para o audiovisual e o roteiro foi completamente reformulado. Em Maio de 2022, o curta-metragem “Romeu e Julieta”, encenado em Libras e protagonizado por elenco de pessoas surdas, estreou no 25º Cultura Inglesa Festival, no formato online.
O congresso Drama 4ALL reúne educadores de teatro, produtores culturais, artistas, pesquisadores, professores e estudantes da área das artes cênicas de todo o mundo. Promovido pela University of Iceland – School of Education (UI), a conferência internacional tem o objetivo de discutir os processos educacionais ligados ao teatro.
GRUPO SIGNATORES
Formado em 2010, na cidade de Porto Alegre (RS), o Grupo Signatores surgiu do interesse comum dos seus participantes em investigar os processos de construção da estética artística própria da cultura surda. Na cultura surda, a expressão corporal vai além de uma forma de comunicação, ela faz parte da construção gramatical da língua dos surdos, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). A possibilidade de experimentação na interface da utilização corporal da língua de sinais e da linguagem cênica foi o ponto de partida para a pesquisa do Signatores, que hoje atua também no meio audiovisual.
O grupo tem como proposta incentivar a formação de docentes e pesquisadores na área cultural e aproximar jovens e adultos surdos da arte, investigando as possibilidades de criação artística dos surdos. O Signatores vem da junção das palavras “signo” e “atores”, o nome também é um trocadilho com as palavras “signatário” e “signatura”, havendo as duas palavras a origem em latim “signare” (aquele que assina); o ator que assina: o ator/autor é o seu próprio trabalho, um “signator”.
Desde 2020, o Signatores migrou para a área do audiovisual, e segue com novas produções de curta-metragem e documentários bilíngues (Libras e Português), protagonizados pela comunidade surda. Com o curta-metragem híbrido “Romeu e Julieta “(2022), uma produção em Língua Brasileira de Sinais, o curta-metragem “Entre Palhaços e Parafusos” (2021) e no documentário “Iyalodês: Diálogos sobre maternidade, surdez e negritude” (2022), produção voltada a discutir a maternidade de mães surdas, pretas e de periferia.