Último informativo da iHire entrevistou mais de mil jovens e 252 gestores, em mais de 57 segmentos.
A iHire, através da plataforma Qualtrics, informou que 69,3% da Geração Z admite ter um “emprego dos sonhos”. O último relatório ‘Gen Z in the Workforce’ entrevistou mais de mil jovens e 252 empregadores, em mais de 57 setores de trabalho diferentes.
Compondo 27% da força de trabalho global, a GenZ está preocupando os contratantes locais. Somente em 2024, os gestores consultados pela iHire reportaram que apenas 13,5% da Geração Z é comprometida com a carreira, enquanto o “entendimento em tecnologia” beira os 71%. A pesquisa expôs outras características alarmantes: “inovadores” (30,2%), “colaborativos” (22,6%) e “hard working” (14,7%).
Apelidados de ‘Zoomers’, a Geração Z é uma das mais disruptivas quando o assunto é trabalho. Enquanto as gerações anteriores (X, Y e boomers) buscavam “oportunidades de crescimento no quadro corporativo”, somente 31,9% da GenZ classifica esse tópico de “extrema importância”. Por outro lado, a “flexibilidade para equilibrar trabalho e vida pessoal” está à frente em seis posições – com 49,7%.
O resultado da alta expectativa frente aos desafios corporativos é uma insatisfação massiva entre os nascidos de 1997 à 2012. Segundo o Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP), apenas 22% dos jovens estão satisfeitos com o trabalho, provocando uma busca massiva de 75% novas vagas de emprego em 2025. Para o diretor da Transite, Vinicius Walsh, o ideal da “profissão dos sonhos” contribuiu significativamente para a frustração da Geração Z.
“A GenZ criou uma expectativa irreal sobre o que é ‘trabalho’. Esses jovens cresceram consumindo conteúdos que romantizam a vida profissional, com promessas de liberdade, propósito e sucesso imediato. Nas redes sociais, proliferam histórias de carreiras perfeitas, empreendedores jovens e estilos de vida livres de frustrações. No entanto, quando esses jovens entram no mercado, se deparam com a rigidez de horários, cobranças por desempenho, chefes pouco empáticos e pouca flexibilidade. A desconexão entre o que esperavam e o que encontram na realidade resulta em insatisfação e, muitas vezes, em uma sensação precoce de fracasso”, explica.
Especialista em transição de carreira, Vinicius relata que o conceito mítico do “emprego ideal” desconsidera a transformação contínua das novas gerações e do mercado de trabalho. “O que hoje parece ser um sonho, amanhã pode se tornar uma prisão”. Para o diretor, nenhuma profissão é isenta de rotinas difíceis, pressões ou fases de estagnação, no entanto, a Geração Z se sente pressionada a encontrar o trabalho perfeito rapidamente, e qualquer desconforto é interpretado como sinal de erro ou inadequação.
Prova disso é que 46% dos jovens têm medo de estarem presos a um trabalho que não gostam ou que não se sintam realizados, segundo dados da McCrindle. O infográfico ‘Generations Defined’ revela ainda que esse receio está entre o ‘top 3 principais temores’ das novas gerações. Para Vinicius, é possível — e necessário — ressignificar o conceito de realização profissional, mas ao invés de buscar um trabalho perfeito, a realização pode ser entendida como um processo contínuo de construção de significado, aprendizado e evolução pessoal.
“Para não perdermos 27% da força global do trabalho, as empresas precisam investir em culturas mais flexíveis, com espaços de escuta, oportunidades reais de desenvolvimento e lideranças preparadas. É preciso abrir espaço para que esses profissionais assumam protagonismo sobre suas carreiras, mesmo em ambientes imperfeitos. Por outro lado, os próprios trabalhadores — especialmente os mais jovens — precisam rever suas expectativas e entender que frustração faz parte do processo de crescimento. Não existe realização sem desafios, e a carreira ideal é, na verdade, aquela que se transforma junto com o profissional. Realizar-se no trabalho não é encontrar um único destino, mas sim cultivar um caminho com propósito, aprendizado e resiliência” afirma.
De acordo com o gestor da Transite, as empresas precisam ter cuidado para não desperdiçarem o potencial dos novos trabalhadores – e essas barreiras já são sentidas pela GenZ. Segundo a iHire, 34% da Geração Z acredita que os estereótipos negativos, difundidos entre gestores, impactam negativamente na aceitação dos jovens em novas carreiras. Temendo o desalinhamento do mercado de trabalho, Vinicius alerta para os cuidados em atrair e reter talentos daqui pra frente.
“Essa geração valoriza, acima de tudo, propósito, autonomia, bem-estar emocional e reconhecimento frequente. Ao mesmo tempo, muitas organizações ainda operam sob modelos hierárquicos tradicionais, com estruturas engessadas e lideranças pouco preparadas para oferecer feedbacks constantes ou escuta ativa. Outro obstáculo é a própria rigidez dos processos internos, que dificulta a personalização do desenvolvimento profissional. Além disso, existe uma pressão por resultados no curto prazo — típica do mundo corporativo — e o desejo dos jovens por experiências significativas e sustentáveis. Devemos ficar alertas. Empresas que não conseguem lidar com esse paradoxo sofrem com alta rotatividade, desengajamento e dificuldade em atrair e reter talentos”, conclui.
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