As peças de encaixar do quase centenário brinquedo Lego, que há 90 anos dá vida aos mais inusitados objetos e estruturas criadas pela imaginação infantil, agora servem de modelo para a construção de uma das mais novas demandas urbanas do século: as estações para abastecimento de veículos híbridos e elétricos. Em Santa Catarina é assim que os eletropostos vêm sendo construídos.
A estrutura dos eletropostos do estilo Lego fazem parte da rede de abastecimento WeCharge. O processo imita a lógica do Lego: as peças vão encaixando até formar a estação de recarga, que pode ter diferentes tamanhos e formatos.
As possibilidades de montagem são infinitas e permitem adequar a estrutura às necessidades e particularidades de cada espaço e cenário, sem perder seu design-padrão. É possível, por exemplo, instalar apenas o totem de recarga no piso, ou, então, acrescentar paredes de fechamento e também adicionar uma área de teto, com iluminação apropriada. Isso dispensa a elaboração de um novo projeto arquitetônico a cada novo local de implantação, agilizando o processo.
“Optamos por este sistema modular justamente para facilitar a aplicação. O desenho já está pronto e pode ser ajustado em qualquer situação. Basta fazer a encomenda das peças necessárias e montar”, explica o arquiteto Giovani Bonetti, da Marchetti Bonetti Arquitetos Associados, que esteve à frente do projeto.
Todo o processo de montagem é manual e pode ser feito por qualquer pessoa, seguindo as orientações de passo a passo do guia do usuário. Ele também não gera resíduos nem entulhos de obra, o que evita desperdício de materiais de construção. Segundo Bonetti, a ideia era projetar uma edificação que fosse coerente com a proposta ecológica e sustentável dos veículos não poluentes, impactando minimamente o meio ambiente. Esse foi o ponto de partida para a criação do projeto, que também utiliza materiais de reuso e tintas com menos dióxido de titânio.
A escolha por este modelo construtivo dividido por peças também é o caminho mais fácil para acompanhar uma demanda em constante crescimento. Os eletropostos são uma tendência urbana cada vez mais necessária em razão do aumento da frota de carros híbridos e elétricos. Só no primeiro semestre deste ano foram vendidos mais veículos híbridos e elétricos do que em todo o ano passado no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).
Em Santa Catarina, os eletropostos não existiam até 2019. Naquele ano, as primeiras estruturas começaram a aparecer em algumas cidades, como Florianópolis, para atender aos primeiros veículos que foram surgindo. A instalação de novos eletropostos só passou a se intensificar em 2021, quando a procura por carros elétricos disparou. Foi neste cenário que nasceu a WeCharge, com o propósito de tornar mais acessível a infraestrutura de recarga de carros elétricos no Estado. A WeCharge é um braço do Grupo Dimas, que, atualmente, é representante exclusivo da Volvo no Estado, marca pioneira na eletrificação e líder do ranking de carros elétricos no país.
A criação do projeto arquitetônico e os elementos o design thinking
Para entender o que a WeCharge tinha em mente e onde queria chegar com os eletropostos, o escritório Marchetti Bonetti utilizou a metodologia do design thinking durante todo o processo de criação do projeto arquitetônico. O design thinking é uma abordagem mais humanizada de propor soluções tangíveis e criativas para os problemas do cliente.
O método se inspira no chamado “pensamento do designer” (tradução literal do termo), que costuma enxergar os fatos com uma visão mais inovadora e fora da caixa, dando prioridade à observação das necessidades, desejos e limitações dos consumidores em detrimento do pensamento analítico, das pesquisas teóricas, das suposições e das hipóteses.
Todo o trabalho do design thinking é conduzido de maneira coletiva e colaborativa. Assim, o escritório conectou todos os atores da cadeia de produção do projeto para fazer o levantamento de informações: os responsáveis da WeCharge e o time interno de arquitetos, tanto da área criativa quanto de desenvolvimento de projeto.
Por meio de oficinas dinâmicas e periódicas, o grupo conseguiu criar um ambiente extremamente favorável ao diagnóstico das necessidades do cliente e ao desenvolvimento criativo do projeto. “Pudemos entender, como grupo, o que eles esperavam em relação à questão estética, ao processo de montagem, às referências que tinham em mente e o volume de estruturas ao longo do tempo”, explica Bonetti.
Foi com base na narrativa construída nas oficinas que a ideia de se criar uma estrutura baseada em peças de montagem ganhou vida. A inspiração veio do modelo arquitetônico dinamarquês, onde os eletropostos já estão mais presentes no contexto urbano e também onde o compromisso com a saúde do planeta é mais evoluída.
Crédito: Divulgação WeCharge.